O QUINTAL, A CASA E A FAMILIA

A casa o quintal e a família

Diz um dito popular que em cidade pequena, quem não é parente é compadre ou comadre. Esta frase  é para que possa relembrar de nossa convivência de antigamente, onde as casas tinham um grande quintal, onde os terrenos eram grandes, e eram fechados com cerca de arame e bambus, os meios de transporte eram bicicletas, cavalos e charretes e o bonde, e as viagens eram feitas de trem, e sem pressa de chegar, pois a preparação da viagem, e o percurso também eram tão importantes como o destino.

Pois bem, comecemos a descrever os quintais de antigamente pela própria cerca que eram base para crescer parreiras de chuchu, plantava-se varias arvores frutíferas, tinham também hortas com alface, cebolinha, cheiro verde, hortelã, abobrinha e abóboras, pé de cana e de milho. Era tanto espaço que podíamos criar galinhas e patos, as quais produziam uma boa quantidade de ovos, tinha até um pequeno “chiqueiro” onde os compadres engordavam leitões para dividir no final do ano. Quero dizer que quintal era sinônimo de fartura e da terra tirava-se muito alimento para a família, e algumas que criavam cabras e cabritos, as matrizes forneciam leite, e os filhotes iam para a mesa de natal. A segurança daquela época era feita por bonito cão da raça pastor alemão. O qual tinha a sua respectiva casinha, também no quintal.

E as casas, bem as casas eram construídas com espaço livre dos dois lados, para um perfeito arejamento e boa insolação, o pé direito era superior a três metros, também pensando no conforto térmico da moradia. Os quartos eram no famoso 3x4, a cozinha era também grande porque era na cozinha que acontecia o almoço, a reunião familiar, pois todos participavam na confecção da refeição e das sobremesas e a conversa estendia-se por toda tarde até o famoso cafezinho. No centro da mesa sempre tinha um objeto chamado fruteira, o qual vivia cheio de frutas do quintal.  A sala era um ambiente mais formal e chamava-se sala de visita, e geralmente as casas tinham um só banheiro bem espaçoso e não tinham garagem, pois carro naquela época não era importante.

E sobre as famílias, a família daquela época tinha no  pai, a figura do provedor da prole, e a mãe cuidava dos afazeres domésticos, as moças antes de se casarem cursavam arte culinária, corte e costura, e essas aptidões eram passadas de mãe pra filha, e o moços geralmente aprendiam a mesma profissão dos pais. As crianças quando voltavam da escola era na mesa da cozinha que faziam suas lições de casa e eram supervisionadas pela mãe, ou esperava-se o pai voltar do trabalho para ajudar no trabalho escolar. Domingo era dia sagrado e todos iam juntos á missa e fazer visitas aos parentes. Quando alguma criança nascia na família ou na vizinhança, todo mundo dava um pouquinho do seu tempo para ajudar à parturiente. Enfim a família era o centro de tudo, o calor humano estava sempre presente e não era preciso pedir, todos viviam por todos.

Mas o tempo passou, e o tempo esta cada vez menor neste mundo globalizado, e vejamos como que a nossa casa o nosso quintal e a família estão na atualidade.

Começando pelo quintal, bem o quintal simplesmente acabou, sumiu, não existem mais, as frutas agora estão dentro da caixinha (indústria de sucos e doces), os legumes agora estão enlatados ( indústria de conservas) os frangos, agora só no abatedouro (avícolas) os ovos, só na granja, os leitões, só no frigorífico e no açougue, as verduras só na feira livre, as ervas medicinais, só na farmácia, e a casinha do cachorro foi parar dentro da casa. Sombra de arvore só nos parques públicos. As brincadeiras de criança, tais como, subir em arvore, esconde- esconde, balança caixão, amarelinha, bolinha de gude, roda de peão, caçoleta, passa anel, unha na mula, pula corda, também acabaram, até as brincadeiras de rua, também acabaram como o futebol, onde o espaço do gol  era demarcado por duas pedras ou coisa parecida, o bete, e o empinar pipa,  ainda resiste um pouco, mas como as cercas de bambu não existem mais, também a confecção das mesmas estão ficando industrializadas. Agora é tudo eletrônico, é tudo vídeo-game.

E as casas, bem as casas, a cada tempo estão ficando menores, mas tem uma coisa que esta crescendo, é o espaço do carro, começou discretamente com o espaço para um veiculo, agora já é preciso para dois, e para alguns até três ou quatro, porque embora os carros sejam feitos para transportar até cinco passageiros, na maioria das vezes só transporta um. Mas acontece que apareceram dois sujeitos, um chamava-se Manuel e o outro Juaquim, que tiveram uma idéia sensacional para aproveitar melhor os terrenos, fazer uma casa em cima da outra, que foram batizadas de – é difícil, e depois o termo se popularizou e virou Edifício, e assim nasceram os apartamentos, e  estão em constante transformação, hoje já estão sendo construídos apertamentos, pois medem menos de 40 metros quadrados.

E as famílias, aquelas compostas de avós, pais, filhos, netos, tios, primos, compadres, mais os genros, noras, sogras e sogros, padrinhos e afilhados. Juntam-se também os vizinhos e os amigos de todos os rótulos, sendo amigos da escola, amigos do trabalho, amigos do futebol, amigos do boteco, amigos da academia, amigos das pescarias, amigos da fé,  e mais alguns que farão esta lista crescer bastante, toda essa gente, só tem um único dia para se reunir e por a conversa em dia, e esse dia sabe qual é – é o dia do velório de alguém. Pois ninguém tem tempo disponível para conversar, até pais e filhos morando na mesma residência, não tem mais tempo, ou por culpa da televisão que tem o privilégio de ser a primeira a ser escutada, ou é o facebook, ou o twiter, os e mails, ou então estão todos empenhados na profissão a fim de ganhar o suado salário, para poderem pagar por tudo que entra dentro de casa, para pagar a escola, a academia, o curso de línguas, o carro novo, os impostos, o plano de saúde, a internet, a TV a cabo, e mais um monte de coisa que todo mundo quer possuir ou trocar pelo modelo mais recente.

Assim termino esta descrição dizendo que gostaria de poder sentar com você meu amigo ou meu parente, de vez em quando a beira de um caminho, contar umas piadas e dar umas boas risadas, ou simplesmente ficar observando o por do sol, também podíamos fazer uma caminhada ao amanhecer e observar o nascer do sol, ou como alternativa uma noite de lua cheia, pois o bicho homem é o único que tem a capacidade de desenvolver o dom do dialogo e é conversando que surgem as grandes idéias, é conversando que resolvemos nossos problemas, e às vezes só de estarem lado a lado os fardos se tornam mais leves, e que nosso conviver seja tão numeroso como as estrelas do firmamento. Eu quero abraçar cada um de vocês, mas não um abraço como uma frase no final de uma mensagem e sim um abraço real, forte e caloroso.

Gente vamos viver a vida hoje, porque amanhã pode ser que não de tempo. Porque os quintais, as casas e as famílias de antigamente serviam exatamente pra isso, a convivência entre todos.